domingo, julho 23, 2017

UM ABRAÇO DE ABRAÇAR


Hoje fui ouvir o vento
forçando-se por entre a folhagem,
rosnando por entre os troncos a brincar à cabra-cega.
Hoje, a paz que vem por dentro,
trouxe-ma o vento à sua passagem,
conversando com a natureza em singela entrega.
Conciliábulo de força e vontades,
rumorejam as copas, bem lá no alto,
e o vento sopra, ardente, rente à vida.
Agitam-se as folhas, conjuram-se as verdades;
as mãos dos bons gigantes tomam de assalto
o ar, a tarde, o espaço, beleza emergida
das entranhas de uma terra sofrida.
Debaixo das copas agitadas e felizes,
detive os passos em silenciosa adoração.
Cabelos ao vento conversador,
coração em sintonia e alma pacificada, recolhida,
sacudida pelas mãos do vento, rijo, deste Verão.
Ouvindo as árvores no seu conversar apaziguador.
Como amoras de negra doçura e silencioso perdão.
Hoje fui ouvir o vento; sentir-lhe as mãos,
saborear-lhe o gosto nos lábios sequiosos de paz.
Hoje fui inundar-me de alegria,
vestir a pele da natureza, despir-me de sonhos vãos.
O sorriso fez-se fácil: sem razão, daqueles que apraz
sentir crescer. Verdadeiro, interior – em amena sintonia
com o rugir das árvores - e o bramir do vento.
Hoje fui vestir-me de mim ; em paz por um momento.

Se perguntarem por mim digam:
 Que parti – parti feliz… fui abraçar uma árvore; ouvir-lhe a voz.


Oiço o mar em terra adentro;
ondas bravias em célere movimento.
E vejo-as, verdes, agitadas, frenéticas,
de cá para lá… de lá para cá - eclécticas.
Os bons gigantes dançam ao som do vendaval;
gigantes de anciã elegância, roupagem sem igual.
Oiço o mar na ramaria, parecem marés vivas!
Contorcem-se os troncos, agitam-se as folhas esquivas.
Fecho os olhos para sentir este rumorejar,
quase sinto o salitre, quase toco o imenso mar.
Oiço-o em terra seca, em encosta de verde vestida,
ondulante como maré cheia em pleno areal estendida.
Frenética dança de folhas, hiperbólico perfume
espalhado pelo ar, chocalhado de ventania.
Um mar, em terra adentro, soprando o seu queixume

pelas copas verdes, despenteadas, em desenfreada melodia. 


lágrimas de lua

1 comentário:

vitalina de assis disse...


Olá, bom dia.

Que lindo poema. Uma bela caminhada entre o hoje e a natureza e acima de tudo um entrelaçar e fluir de sentimentos e a acolhida do que segreda a vida.

Abraços, sorria sempre.
Vitalina.

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